Pão-por-Deus
Mandava a tradição que as crianças se apresentassem arranjadas e com muita compostura, sem máscaras e com um ar sério, combinando com a solenidade do dia. O “pão de Deus” – ou broas, bolos, romãs e frutos secos, como amêndoas, nozes e castanhas – eram recolhidos nos talegos, sacos de retalhos, para depois serem divididos entre todos.
É corrente afirmar-se que esta tradição terá tido início em Lisboa, em 1756, um ano após o Terramoto, em que a população empobrecida aproveitou a circunstância do dia santo e da comemoração da catástrofe, para desencadear um peditório espontâneo que se estendeu a toda a cidade, a pedir esmola ou um “pão, por Deus” que lhes mitigasse a fome.
Não obstante, a designação de “dia de pão por Deos” e o costume de repartir pão cozido pelos pobres são registados em documentos jurídicos do século XV: “Pagaredes [sic] o dito foro em cada hum anno em dia de pão por Deos” (Viterbo, 1865, 265).
Teófilo Braga aponta para uma apropriação cristã de um costume pagão ancestral: “os pães chamados darum entre os mitriacistas, e mamphula pelos romanos, tornaram-se nestas ofertas cristãs” (Braga, 1994, 223). A ligação do pão ao dia em que se celebram todos os santos e mártires, decorre das práticas ancestrais e transversais a várias religiões e práticas devocionais de associar os mortos à vida quotidiana e manter a relação entre os vivos e os seus ancestrais, como é o costume de deixar o “pão das almas” nas sepulturas, no dia dos Finados dos Fiéis Defuntos, a 2 de novembro, (Machado, 1999, 36) ou a tradição dos bodivos, ou refeições que se davam aos pobres pelas almas dos defuntos, por seu turno, subsidiárias da ágape eucarística (Viterbo, 1865, 200-203). Leite de Vasconcellos, registando o costume a 2 de novembro, atribui-lhe uma origem francesa, sugerida pelos versos populares recolhidos em Preuilly-sur-Cher (“Boun’dam’, donnez du pain pour Dieu, Que nous dis’rons les Ovradiev, Les Ovradieu de Jésus-Christ.”) ou em Bengy-sur-Craon (“Donnez nous le pain du bom Dieu, Apprenez nous les A-Vois-Dieu, Les A-Vois-Dieu de Nout’Seigneur”) (Vasconcellos, 1938, 1313).
Em Portugal, o dia de Todos os Santos, por ser feriado, acabou por ser dia de visita aos cemitérios, devida no dia dos Fiéis Defuntos, celebrada a 2 de novembro, e, por conseguinte, o dia de oferendas aos mortos, consubstanciada no costume de colocar flores nas sepulturas. É, também, neste dia que se fixou o hábito de pedir o “pão, por Deus”, integrado no ritual popular de homenagem a Todos-os Santos e aos mortos, sendo, nalgumas zonas, conhecido como o dia do Bolinho: “Bolinhos e bolinhos, Para mim e para vós, Para dar aos finados, Que estão mortos, enterrados”.
O costume fixou-se, alargou-se a todo o país e perpetuou-se no tempo, até aos nossos dias, embora esteja cada vez muito diluído nas nossas memórias pela progressiva implantação da tradição anglófona do Halloween, numa clara ameaça a esta manifestação do património intangível português.
Fonte da informação: A.MUSE.ARTE
Broas dos santos – as minhas
Ingredientes:
- 250 ml de azeite virgem extra
- 500 ml de café (ou água se preferir)
- 250g de açúcar moreno intenso
- 125g de mel (usei de urzes do Gerês)
- 15g de erva doce moída
- 5g de canela em pó
- 1 colher (café) de gengibre em pó
- 1/2 colher (café) de noz moscada
- 3 cravinhos
- 1 colher (café) flor de sal
- 100g de miolo de noz
- 500g de farinha (usei T65)
Aspeto delicioso
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Cumprimentos cordiais e poéticos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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