Sermão aos peixes: O polvo
“Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele seu capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles seus raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar.
Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo: e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz, é a luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor!”
Padre António Vieira, 1654.
Ingredientes:
- Polvo cozido q.b.
- 50ml de azeite
- 1 cebola
- 1 dente de alho
- 1/2 tomate
- 1 tira de pimento vermelho
- 1/2 malagueta vermelha
- 2 copos de água de cozer o polvo
- 1/copo de arroz carolino
- 2 perninhas de salsa
Preparação:
Leve ao fogão um tacho com o azeite e deixe aquecer ligeiramente. Adicione a cebola e deixe cozinhar até que fique translúcida. Adicione o alho e mexa. Junte o tomate, mexa e deixe refogar 2 minutos. Repita a operação com o pimento e a malagueta. Deixe refogar uns minutos.
Vá acrescentando a água de cozer o polvo, aos poucos, e deixe ferver. Adicione o arroz, mexa um pouco para que os grãos se separem e deixe cozer cerca de 10 minutos.
Junte o polvo e assim que o arroz esteja cozido, o que demora cerca de 18/20 minutos (dependendo de como se gosta da textura do grão), salpique com a salsa picada.
Sirva de imediato.
Outro arroz de polvo, mais habitual nesta cozinha: Arroz de Polvo